“Objetos brilhantes no céu e luzes de uma nave extraterrestre fortíssima por cima do Hospital de Santa Maria, podem ser uns óvnis?”

Em entrevista ao jornal Expresso o professor Rui Agostinho, antigo diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL). fala sobre os mais recentes alertas de óvnis e da ação da NASA no que diz respeito à segurança aeronáutica e espacial. Ao longo da sua passagem pelo Observatório, Agostinho deparou-se com vários relatos de avistamentos de óvnis e não descarta a hipótese de alguns países terem ficheiros secretos sobre vida extraterrestre. Em 2024, os EUA deverão iniciar uma revelação de dados sem precedentes. Agostinho não tem dúvidas de que o tema tem implicações militares, políticas e económicas. Oiça aqui o podcast Futuro do Futuro. Uma entrevista conduzida por Hugo Séneca

Cada dia que passa é um dia a menos para o dia da grande revelação. E Rui Agostinho, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço e antigo diretor do Observatório Astronómico de Lisboa, estará seguramente atento ao momento em que as agências governamentais dos Estados Unidos forem obrigadas a revelarem o histórico de ficheiros sobre eventuais avistamentos e contactos com alienígenas.

A divulgação dos dados que foi ditada este verão pelo Senado dos EUA “revela uma mudança drástica em relação ao reporte acerca do que é visto e o que é detetado”, refere o astrónomo que é também professor da Faculdade Ciências da Universidade de Lisboa.

“Há uma série de histórias relacionadas com pilotos de aviões comerciais que veem alguma coisa e acham que devem comunicar”, acrescenta o investigador.

A ordem ditada pelo Senado dos EUA prevê a entrega desses dados em 300 dias – e possivelmente deverá começar a produzir resultado em 2024, depois da análise de peritos.

Em paralelo com a decisão tomada pelo Senado, a Câmara dos Representantes juntou três testemunhas numa audiência inédita. Além do relato de um piloto de avião que assistiu a um fenómeno que foi filmado e permanece difícil de explicar, a sessão contou com os comentários de David Crusch, antigo operacional dos serviços de informação dos EUA, que alega ter sido alvo de pressões agressivas dos superiores hierárquicos, quando tentou descobrir mais sobre as investigações e registos sobre avistamentos ou contactos com alienígenas. E é esse momento que levou o astrónomo a responder ao primeiro desafio do Podcast Futurop do Futuro com um som retirado dessa audiência.

Rui Agostinho está convicto de que o tema se presta a um “confronto entre aquilo que é conhecimento público e a segurança nacional”, que serviu de “justificação para manter secreto durante muito tempo estas coisas”.

Além das questões de segurança interna, os testemunhos na Câmara dos Representantes já precipitaram tomadas de posição de diferentes países – entre eles aliados dos EUA ou até o parlamento mexicano que, recentemente, deu a conhecer espécimes de alegados alienígenas.

O astrónomo admite que possa haver interesses económicos para que não se revele tudo o que se sabe, ao mesmo tempo que se tenta ganhar tempo para conhecer as tecnologias que, alegamente, vêm de outro mundo através de “engenharia reversa”.

Uma coisa é certa: os alegados avistamentos de extra-terrestres não são um exclusivo dos EUA. Rui Agostinho recorda as várias cartas e alertas que recebeu enquanto diretor do Observatório Astronómico de Lisboa – e aponta uma outra bastante mais curiosa que, num passado bem mais remoto, aconselha um antigo diretor a aparecer num local predeterminado que, alegadamente, iria receber a visita de seres de outro mundo.

Ainda que tenham o seu lado caricato, estes alertas são levados a sério por quem faz astronomia. “Vejo um objeto brilhante que está ali no céu todos os dias, àquela hora, eu acho que me estão a perseguir. Veja lá, se não é um óvni que anda ali sempre a ver a minha casa continuamente”, refere o astrónomo, numa alusão a um dos episódios relacionados com objetos não identificados que foi reportado ao OAL.

As boas práticas dizem que os relatos devem ser escritos “enquanto a memória está fresca”, mas Rui Agostinho também se deparou com casos em que “as pessoas nem sabem descrever aquilo que estão a ver”.

“Muitas vezes não há sequer uma boa descrição daquilo. É preciso estar ao telefone quando se telefona. E depois isto e depois aquilo. E o que é que viu? Já avaliou a distância? Faça-me lá uma estimativa”, exemplifica.

No segundo desafio do Podcast Futuro do Futuro, o professor da FCUL trouxe uma imagem captada pela Estação Espacial Internacional que permite ver a Terra – a origem e o destino de toda a curiosidade humana, e também um local com condições difíceis de replicar dentro do Sistema Solar.

Em vez da lua de Europa, que orbita em torno de Júpiter, ou Encélado, que orbita em torno de Saturno, Rui Agostinho prefere direcionar as expectativas quanto à vida extra-terrestre para planetas e outras estrelas da nossa Galáxia. Depois de desafiado sobre as diferentes noções de tempo, aceitou deixar um comentário sobre a polémica mudança da hora que se avizinha. “Há dados que dizem que depende se é uma pessoa madrugadora ou se é uma pessoa mais noturna. Portanto, não afeta as pessoas todas da mesma maneira”, conclui o astrónomo.